terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Como virei portelense

Conte pra nós como é que você virou portelense. Eu vou contar a minha história:

    Sempre me perguntam como eu, um paulistano da gema, virei um portelense fervoroso e apaixonado.
    Desde criança sempre gostei de música, de samba, de Carnaval. Ninguém me ensinou. Nasci com isso.
    Adolescente em São Paulo passei a frequentar a Vai-Vai, a maior campeã do Carnaval paulistan...o, atraído pelo preto e branco, cores do Corinthians, a minha maior paixão. Virei sócio, frequentador da quadra, torcedor e desfilante.
    Em 1972, estudante de economia da USP, militante do Movimento Estudantil e da luta contra a ditadura militar, participei das comemorações dos 50 Anos da Semana de Arte Moderna, no teatro da FGV. Era uma semana de shows com grandes nomes da MPB, mas um deles, exatamente o último, que fechava a Semana, me atraiu especialmente: Paulinho da Viola e a Velha Guarda Portela.
    Sai do teatro completamente extasiado com aquilo. Aqueles senhores, elegantemente vestidos de azul e branco, marcaram minha memória, meu coração e minha vida para sempre. Ver Chico Santana, Manacea, Alberto Lonato, Ventura, Casquinha, Argemiro, Monarco, Tia Vicentina tocando prato, Osmar do Cavaco, entre outros, foi um presente e jamais esqueci aquela noite. Ali comecei a virar portelense.
    Dias depois, eu, Luis Turiba, Lucia Leão, Luiz Oscar Matzenbacher e vários outros companheiros fomos presos pelo DOI-CODI, por nossa militância no Movimento Estudantil e no PCdoB. Nas celas do DOI-CODI, na Rua Tutóia, nos raros momentos de calma, quando os gritos da tortura não invadiam nossas celas e nossas mentes, nós cantávamos a plenos pulmões os sambas da Portela. Eram verdadeiros corais que incomodavam e irritavam os torturadores. Cantar os sambas da Portela, naquele momento, era uma forma de resistir à tortura, de combater a dor, de levantar o moral da nossa tropa.
    Foi ali, nos porões do DOI-CODI, cantando os sambas da Portela, que esse amor se consolidou e me transformei definitivamente num portelense. 
    Um amor forjado na luta, curtido na dor e temperado na resistência. Por isso, um amor eterno!
    Moacyr Oliveira Filho - Moa - Presidente do Consulado da Portela no DF

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